quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Brasil não deve abandonar energias alternativas em favor do pré-sal, diz Goldemberg

“Com o entusiasmo do pré-sal, há risco de os investidores se desinteressarem por outras áreas. Isso já está acontecendo e pode não ser positivo para o Brasil”, afirmou o físico José Goldemberg, da Universidade de São Paulo. O país, afirma, deveria continuar buscando uma matriz energética mais limpa, investindo em biomassa e etanol, que gera um milhão de empregos. “Isso é mais do que a indústria do petróleo”, afirmou na conferência “Brasil em 2020: Ordem e Progresso?”, promovida pela revista britânica “The Economist”, em São Paulo. Talvez por isso ele tenha, ao final do debate, se definido como um pessimista em relação às vantagens trazidas pela indústria do petróleo.
Goldemberg não estava sozinho em sua defesa. David Zylbersztajn, da DZ Negócios com Energia, também preferiu se colocar sob o guarda-chuva do pessimismo ao projetar os possíveis “ganhos” da indústria petrolífera para o país. “Mesmo que as licitações da Petrobras sejam realizadas, nós só teremos petróleo daqui a dez ou 15 anos. Eu vejo um futuro negro porque eu acho que o mundo vai enxergar o petróleo de maneira muito diferente”, disse.
O otimismo ficou por conta da audiência e de José Miranda Formigli, gerente-executivo de exploração e produção da Petrobras, para quem mesmo que o óleo comece a jorrar em 15 anos ainda fará toda a diferença para o Brasil. “Apesar das projeções e da busca por energias alternativas, o petróleo ainda terá um peso muito grande na matriz mundial”, afirmou. Ele emendou, porém, que o país deve manter sua meta de desenvolver uma matriz verde. “O que nós devemos fazer é aproveitar essa onda que pode nos trazer um grande benefício, toda a riqueza que pode ser gerada a partir do petróleo”.
Como exemplo, Formigli citou a Noruega, país que aparece em primeiro lugar no recém-divulgado ranking de desenvolvimento humano. Os noruegueses deram nota 7,6 para seu dia-a-dia e o país sempre aparece entre os primeiros quando se fala de qualidade de vida e políticas verdes. E, notou Formigli, continua explorando gás e petróleo. “Por quê? Porque a Noruega sabe que o petróleo gera riqueza e conhecimento, que serão utilizados pelas gerações vindouras", afirmou.
Os ânimos continuaram arrefecidos quando se questionou a possibilidade de o país ter de lidar com um vazamento nas mesmas proporções do desastre do Golfo do México, em que um acidente em poço da BP atirou mais de 800 milhões de litros de óleo no mar. “O Brasil não está preparado para enfrentar um acidente com vazamento no pré-sal, mas ninguém está”, disse José Goldemberg. “Os engenheiros não gostam que isso seja dito, mas a verdade é que por mais seguras que as máquinas sejam, sempre é possível acontecer uma desgraça. E aqui pode ser grande porque algo como o pré-sal nunca foi feito”, afirmou.
Reforçando que a Petrobras busca a máxima segurança para a exploração, José Miranda Formigli fez questão de dizer que a existência do pré-sal não anula o trabalho feito até agora para promover outras fontes. “A estratégia da Petrobras não é inundar o mercado de petróleo para podermos prescindir de outras fontes. Estimamos que a matriz energética do Brasil continuará a ser composta de 46% de energias renováveis nos próximos anos”, afirmou.

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